terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Antes que você encarne

Há poucos dias eu tive um encontro bom com um Espírito Benevolente. Por Deus, meu filho, teu pai chorou como talvez você venha a chorar quando estiver com medo do escuro, com medo de dormir sozinho, com medo de que eu vá embora e que não volte. Aliás, filho, o meu choro, na verdade, não foi um choro de solidão. Teu pai chorou como talvez você chore logo que nascer. Um choro de quem está desnudo e com frio. Mas, as lágrimas tiveram o poder de me esquentar como terá o seio da tua mãe pouco tempo depois de você já estar aqui.

Fui a Sacramento, cidade de Eurípedes Barsanulfo. Ele era um professor de crianças. Você deve ter ouvido falar dele por aí. Fez um trabalho inigualável educando os Espíritos encarnados nesse país de provações. Ensinou-lhes que, embora estivessem nesse mundo, não pertenciam a ele. Ensinou-lhes a ver as estrelas. Ensinou-lhes que Deus se esconde em cada pequena porção da Natureza. Ensinou-lhes a encontrar Deus com a inteligência e com o coração. Ensinou-lhes algo ainda mais extraordinário: que a morte não existe. E me ensinou isso de tal forma e com tamanha naturalidade que me vi livre para desde já falar com você.

Não preciso nem dizer a quem ele servia. Ora, servia àquele cujo nome se espalha por todos os cantos, em cânticos e preces, de onde você está. Jesus! Por aqui seu nome ainda se esconde no coração de pessoas como Eurípedes, que grita seu nome para que os surdos ouçam e faz coisas extraordinárias para que os cegos vejam. Mas poucos se mantêm na fé.

O Encontro de Sacramento já acontece pela 43ª vez. Muitas pessoas que acreditam nessas coisas, os espíritas, se reúnem para aprender o que Eurípedes, mesmo já tendo saído da carne, ainda continua a ensinar. Dessa vez ele falava sobre a liberdade. E como ser livre para Deus.

Claro que, sem corpo, ele não tem como falar para que eu escute com os ouvidos. Então, ele se utilizou de uma senhora fantástica, cujos olhos verdes têm um certo mistério de te olhar por dentro. Aliás, várias pessoas queridas nesse lugar tinham esse mistério. Acho que desenvolvidas pelo amor.

As lições de Eurípedes me chegaram de outra forma, também. Ele falou ao meu Espírito.

Houve um momento, em que eu me afastei do público atento e fui passear pelo colégio onde estávamos: o Colégio Allan Kardec. Minha atenção foi chamada para um quarto que possuía as coisas que haviam feito parte da história de Eurípedes quando ele estava encarnado. Eu percorri os meus olhos com toda a lentidão de quem come doce. E quando eu olhei para ele, o retrato dele em um quadro enorme. Eu dei pra chorar um choro intenso, mas um choro bom. Um choro de quem tivesse encotrado um pai, ou um irmão mais velho querido, depois de ter passado horas (ou anos!) perdido longe de casa.

Eu me revelei na minha inferioridade e, não sei se já posso contar isso a você, no meu orgulho e na minha vaidade. Sim, meu filho amado, seu pai não é perfeito. E minhas chagas se mostraram para o professor expostas sem pudor. Foi um choque e uma surpresa. Ele parecia me fazer um convite. Um convite para que eu, finalmente, trabalhasse na mesma seara a que ele se dedica. Ele queria que eu também o ajudasse a Evangelizar os Espíritos. Eu que até então estava imerso no meu mundo de fazer sobreviver apenas o meu mundo e os meus amores.

Me recompondo, voltei até onde aquela senhora de olhos verdes misteriosos falava e falava sobre tudo o que Eurípedes queria ensinar pra gente. E tão logo ela acabou de falar, um coro de crianças e jovens, começa a cantar músicas sobre libertação e despertar. Meus olhos já estavam rasos de tanto chorar. Mas, para completar, a mulher misteriosa deu de deixar passar a fala de um Espírito muito querido, do qual você também já deve ter ouvido falar. Ele sempre se apresenta velhinho, olhos claros e barbas brancas. Fala compassada e humilde. Era Bezerra de Menezes. Ele disse que, onde quer que estivéssemos, eles, os Espíritos Benvolentes, estariam conosco, e que nós não tínhamos idéia do quanto todos eles amavam aqueles que serviam Jesus.

Eu vou começar aos poucos, querido. Vou lhe deixar a par de tudo o que estou fazendo. Fui chamado para trabalhar por esta causa. Meu coração foi enlaçado por ela. Me faz bem te contar cada passo. Não estarei só. Você vai ver quando chegar aqui que terá tios e tias fantásticos. São meus irmãos queridos. Verá que nenhum laço de sangue tenho com eles. Perceberá que isso é o de menos e que o que nos une, para além do abismo do sangue ou da morte, é o amor que temos uns pelos outros.

Sei que já pode sentir isso, mesmo antes, muito antes, de a gente se ver.

7 comentários:

  1. Que belo relato, Allan.
    Também quero construir esse mundo melhor para nossos filhos!!!
    Abração!

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  2. Como provável candidato a primeiro pai, dentre os nossos que ainda não o são, posso dizer que senti uma grande alegria ao imaginar meus filhos lendo este e já também os muitos outros relatos que consegui antever escritos aqui... Relatos que ajudam o Espírito em luta a organizar seu pensamento e a realimentar a vontade para seguir em frente. Façamos mais e mais!

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  3. Ainda bem que você disse quase ninguém era pai ou mãe! Fico aqui agora, na condição de tio desses pequeninos que se preparam para em breve retornar a este mundo com tanto a se construir! Essa casa que nos confere tantas oportunidades de crescimento, chamada Terra. E espero poder também, melhorar esse espaço para chegada deles. "Vamos construir um mundo novo, para merecer quem vem depois..."

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  4. O quê mais posso dizer senão da minha enorme sensação de tranquilidade e alegria ao saber que estes pequenos que estão por vir terão pais e mães como estes que aqui se apresentam como simples servos do Cristo a espalhar seus ensinamentos e a disseminar o amor por Ele aqui deixado como uma, das muitas, de suas heranças quando de passagem por essas paragens! Parabéns meus amados e que Deus os abençoe sempre!

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  5. Horizonte:Certa vez alguém chegou ao céu e pediu para falar com Deus. Segundo o seu ponto de vista, havia uma coisa na criação que não tinha nenhum sentido. Deus atendeu de imediato, curioso por saber qual era a falha que havia na criação.

    -Senhor, sua criação é muito bonita, muito funcional, cada coisa tem sua razão de ser, mas, no meu ponto de vista, tem uma coisa que não serve para nada.
    -E que coisa é essa que não serve para nada? - perguntou Deus.
    - É o horizonte. Para que serve o horizonte? Se eu caminho um passo em sua direção, ele se afasta um passo de mim. Se caminho dez passos, ele se afasta outros dez passos. Isto não faz sentido! O horizonte não serve pra nada.

    Deus sorriu e disse:

    - Mas é justamente para isso que serve o horizonte... para fazê-lo caminhar e nunca desistir de lutar pelo amanhã.
    (DA)
    Abraços de carinho para todos.
    EssenciaDeAmor

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  6. Fico muito feliz em ser seguidora desse blog, mesmo tendo filhos já adultos ser mãe foi e aindo o é minha grande tarefa e minha maior lição, ainda fui presenteada com um filho especial, hoje tenho o prazer de fazer um trabalho com evangelização com crianças e adolescentes.
    O texto é fantástico,parabéns.

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  7. Querido Allan, o seu falar tocou profundamente o meu ser e a minha alma, agradeço a Deus, a Jesus, aos amigos espíritos benevolentes que nunca desistem de nós, por já ter na Terra pessoas como você e muitos outros milhões mais que já estão trabalhando na Seara do amoroso Mestre e irmão, o meigo Rabi da Galiléia, Jesus de Nazaré, te abraço humildentemente e carinhosamente, trocando nesse afetuoso abraço esperança e fé para um novo renascer de nossos irmãos aqui na Terra tão bela e sofrida, vovó Renée

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