segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Quando eu tava "chocho"

Ah, meu filho! A semana que passou foi tão boa pro papai... Não sei se você já teve isso, se já teve tempo de reparar nisso, mas às vezes a gente fica meio "chocho", sem aquele brilho no olho, sem aquela vontade verdadeira de fazer coisa boa... É como se a gente esquecesse, ou fizesse de conta que esqueceu, que é filho do Papai do Céu e que tem muita força e muita coisa boa dentro da gente.

Mas, olha, vou te contar um segredo: toda vez que isso acontece, Ele manda um Espírito Benevolente pra nos ajudar! Toda vez mesmo, viu? É que o Papai do Céu, que é meu pai e seu pai também (qualquer dia a gente conversa  mais sobre isso...), não gosta de ver a gente chateado, sabe? Ele é sempre alegre, e prefere que a gente seja feliz também!

O engraçado foi que Ele me mandou dois Espíritos Benevolentes, só na quinta-feira: um que é uma mulher muito amorosa, uma "mãezona", de quem o papai e a mamãe gostam muito. Ela me ligou, pedindo pra que eu falasse do Evangelho de Jesus em vez dela no dia seguinte, lá na nossa casa espírita.

A moça tinha que cuidar do filho e, sabe como é, cuidar de vocês é muito gostoso, mas às vezes dá um trabalho... E a casa espírita era aquela lá de Belo Horizonte, linda e aconchegante, onde o papai e a mamãe aprenderam como nunca a se preparar pra receber você e seus irmãos!

Eu aceitei na hora o convite. Aceitei porque é disso que o Espírito precisa quando tá "chocho": trabalho no Bem, ao lado de Jesus. Já tava mais animado, começando a refletir sobre a lição do Mestre que eu ia levar pros nossos irmãos lá da casa, quando recebo outra ligação. Dessa vez, o Espírito Benevolente era um homem muito inteligente, com cara de gente sabida de tantos anos que carrega encarnado nesse mundo.

Disse que tava pronto um presentinho que o vovô tinha encomendado pra mim uns cinco meses antes: um telescópio desses que ajudam a gente a ver o Céu mais de perto e se sentir mais perto do Papai de lá! Nossa, era bom demais pra ser verdade! Primeiro, um convite pro trabalho com Jesus! Agora, uma ferramenta novinha pros próximos trabalhos!

Pra não encompridar a história, nem cansar você, vou terminar dizendo que o estudo da noite seguinte foi muito bom. A gente conversou sobre a gratidão que um grande seguidor de Jesus dizia sentir por todo mundo, até por quem atrapalhava ele. Um dia a gente aprende a ter um coração tão generoso assim! E, no outro dia, sábado, a mamãe e eu passamos a noite na casa de alguns grandes amigos da casa espírita pra ver o Céu com o telescópio e, todos juntos, elevarmos nosso pensamento até lá em cimão, onde um dia a gente também vai morar!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Antes que você encarne

Há poucos dias eu tive um encontro bom com um Espírito Benevolente. Por Deus, meu filho, teu pai chorou como talvez você venha a chorar quando estiver com medo do escuro, com medo de dormir sozinho, com medo de que eu vá embora e que não volte. Aliás, filho, o meu choro, na verdade, não foi um choro de solidão. Teu pai chorou como talvez você chore logo que nascer. Um choro de quem está desnudo e com frio. Mas, as lágrimas tiveram o poder de me esquentar como terá o seio da tua mãe pouco tempo depois de você já estar aqui.

Fui a Sacramento, cidade de Eurípedes Barsanulfo. Ele era um professor de crianças. Você deve ter ouvido falar dele por aí. Fez um trabalho inigualável educando os Espíritos encarnados nesse país de provações. Ensinou-lhes que, embora estivessem nesse mundo, não pertenciam a ele. Ensinou-lhes a ver as estrelas. Ensinou-lhes que Deus se esconde em cada pequena porção da Natureza. Ensinou-lhes a encontrar Deus com a inteligência e com o coração. Ensinou-lhes algo ainda mais extraordinário: que a morte não existe. E me ensinou isso de tal forma e com tamanha naturalidade que me vi livre para desde já falar com você.

Não preciso nem dizer a quem ele servia. Ora, servia àquele cujo nome se espalha por todos os cantos, em cânticos e preces, de onde você está. Jesus! Por aqui seu nome ainda se esconde no coração de pessoas como Eurípedes, que grita seu nome para que os surdos ouçam e faz coisas extraordinárias para que os cegos vejam. Mas poucos se mantêm na fé.

O Encontro de Sacramento já acontece pela 43ª vez. Muitas pessoas que acreditam nessas coisas, os espíritas, se reúnem para aprender o que Eurípedes, mesmo já tendo saído da carne, ainda continua a ensinar. Dessa vez ele falava sobre a liberdade. E como ser livre para Deus.

Claro que, sem corpo, ele não tem como falar para que eu escute com os ouvidos. Então, ele se utilizou de uma senhora fantástica, cujos olhos verdes têm um certo mistério de te olhar por dentro. Aliás, várias pessoas queridas nesse lugar tinham esse mistério. Acho que desenvolvidas pelo amor.

As lições de Eurípedes me chegaram de outra forma, também. Ele falou ao meu Espírito.

Houve um momento, em que eu me afastei do público atento e fui passear pelo colégio onde estávamos: o Colégio Allan Kardec. Minha atenção foi chamada para um quarto que possuía as coisas que haviam feito parte da história de Eurípedes quando ele estava encarnado. Eu percorri os meus olhos com toda a lentidão de quem come doce. E quando eu olhei para ele, o retrato dele em um quadro enorme. Eu dei pra chorar um choro intenso, mas um choro bom. Um choro de quem tivesse encotrado um pai, ou um irmão mais velho querido, depois de ter passado horas (ou anos!) perdido longe de casa.

Eu me revelei na minha inferioridade e, não sei se já posso contar isso a você, no meu orgulho e na minha vaidade. Sim, meu filho amado, seu pai não é perfeito. E minhas chagas se mostraram para o professor expostas sem pudor. Foi um choque e uma surpresa. Ele parecia me fazer um convite. Um convite para que eu, finalmente, trabalhasse na mesma seara a que ele se dedica. Ele queria que eu também o ajudasse a Evangelizar os Espíritos. Eu que até então estava imerso no meu mundo de fazer sobreviver apenas o meu mundo e os meus amores.

Me recompondo, voltei até onde aquela senhora de olhos verdes misteriosos falava e falava sobre tudo o que Eurípedes queria ensinar pra gente. E tão logo ela acabou de falar, um coro de crianças e jovens, começa a cantar músicas sobre libertação e despertar. Meus olhos já estavam rasos de tanto chorar. Mas, para completar, a mulher misteriosa deu de deixar passar a fala de um Espírito muito querido, do qual você também já deve ter ouvido falar. Ele sempre se apresenta velhinho, olhos claros e barbas brancas. Fala compassada e humilde. Era Bezerra de Menezes. Ele disse que, onde quer que estivéssemos, eles, os Espíritos Benvolentes, estariam conosco, e que nós não tínhamos idéia do quanto todos eles amavam aqueles que serviam Jesus.

Eu vou começar aos poucos, querido. Vou lhe deixar a par de tudo o que estou fazendo. Fui chamado para trabalhar por esta causa. Meu coração foi enlaçado por ela. Me faz bem te contar cada passo. Não estarei só. Você vai ver quando chegar aqui que terá tios e tias fantásticos. São meus irmãos queridos. Verá que nenhum laço de sangue tenho com eles. Perceberá que isso é o de menos e que o que nos une, para além do abismo do sangue ou da morte, é o amor que temos uns pelos outros.

Sei que já pode sentir isso, mesmo antes, muito antes, de a gente se ver.